terça-feira, 4 de agosto de 2009

HOMENS MENTEM, MULHERES ILUDEM

por Xico Sá em "o carapuceiro"

No varejo ou no atacado, quase todos nós já fomos ou continuamos corruptos. Independentemente de gênero e de classe. Não carecemos nem citar aqui a sociologia mais picareta ou os grandes cronistas de usos e costumes, como o nosso venerado Padre Carapuceiro, para chegar a estas pobres conclusões. Quando à mentira, que tem pernas curtas mas bem torneadas como as de Lurdinha, também não há dúvidas: todos somos mentirosos.

A diferença, porém, ai porém, é que as fêmeas não mentem simplesmente, elas têm o dom de iludir, coisa mais sofisticada, como na canção. Os machos, coitados, simplórios, abusam amadoristicamente deste recurso tão natural quanto a água e o óleo de peroba.

É isso mesmo, até os melhores exemplares da raça masculina cometem as suas trapaças, dissimulações, subterfúgios, maquiagens na face da quase sempre insuportável realidade. Do presidente da corte superior ao trombadinha. A diferença é que uns ainda coram, enquanto outros nem se incomodam com as faces infestadas por cupins.

Todo esse nariz de cera, esse lero-lero da cumeeira dessa crônica, para dizer que folheei dia desses, na espera do dentista, “101 mentiras que os homens contam _e por que elas acreditam” (ed. Ediouro), da norte-americana Dory Hollander, um clássico da psicologia barata. Aliás, nem no dentista foi, o fato deu-se no consultório do homeopata, quer dizer, no analista...

Minto. Comprei mesmo o livro no sebo, por dever de ofício, e o devorei, olhos de traça. Que mentira que lorota boa, seu escriba de meia tigela, seu Zelig, que fica inventando desculpas para as leituras mais vagabundas.

Dane-se, comprei, li e gostei, pronto.

Melhor assim. E quer saber, é um clássico da psicologia popular universal. Está para a fofoca de salão como “A Interpretação dos Sonhos” [by Freud] está para a psicanálise. São frases que podem ser ditas tanto em Manhattan como no sertão do Cariri. Dona Hollander fez uma pesquisa séria, ouvindo muita gente, sobre nossas mentiras, nem sempre sinceras, e nossas piores promessas.

Vai de um inocente "estou cansado demais" a um irresponsável "eu te amo" _dito na hora errada à mulher errada, no lugar errado”. Começo, meio e fim e a nossa cuca ruim, como na canção do príncipe Ronnie Von.

Por que elas acreditam, então? A psicóloga arrisca várias respostas. Uma delas: as mulheres acham que ceticismo e romantismo não podem andar juntos, sob pena de estragar as coisas.

Dona Hollander nos separa em dois blocos: os perigosos e, digamos, aéticos, que abusam da mentira, que enganam por "esporte e lucro", de forma inescrupulosa; os mentirosos ocasionais, que se mostram dissimulados sob pressão e desviam a realidade com pequenas lorotas, artifícios para se livrar da "fúria feminina".

Nessa categoria estão também aqueles que poderíamos chamar de canalhas líricos, inocentes galanteadores como o personagem Bertrand Morane, no filme "O homem que amava as mulheres", do velho Truffaut, padrinho sentimental deste cronista.

Dublês de d. Juans, os Bertrands apenas enfeitam, douram a realidade nas suas peregrinações em busca das mulheres.

Seja qual for a sua classificação, a leitura do livro pode ser feita de forma séria e compenetrada, na linha auto-análise, ou apenas como um delicioso chiclete para a mente, ora.

À guisa de tira-gosto, ficam ai algumas casquinhas e caldinhos de fraseado:

"As únicas fantasias sexuais que tenho são com você".

"Você é maravilhosa, merece alguém melhor do que eu".

"Relaxe, é apenas uma amiga".

"Vou deixar minha mulher".

"O que me atrai em você é a sua mente".

"Não, não acho você gorda".

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