Mário Quintana
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Era de vidro, quase de lâmina
há de haver no espaço uma igual
Era uma lagrima, há de ter sido
um choro natural
Era estrela clara de lua
gota de lume branco e de sal
Era vitrine como é vitrine
o olho, a janela, a ruga e o cristal
Era de água, quase de espelho
como o olhar de quem passa mal
Era de lua sempre de enluarada impressão
divina e normal
Era menino, muito menino
como é menino o bem contra o mal
"O dia mente a cor da noite
E o diamante a cor dos olhos
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente"
Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete a cena se inverte
enchendo a minha alma d'aquilo que outrora eu deixei de acreditar
tua palavra, tua história
tua verdade fazendo escola
e tua ausência fazendo silêncio em todo lugar
metade de mim agora é assim
de um lado a poesia, o verbo, a saudade
do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim
e o fim é belo, incerto, depende de como você vê
o novo, o credo, a fé que você deposita em você e só
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
Se não tem água Perrier eu não vou me aperrear
Se tiver o que comer não precisa caviar
Se faltar molho rose no dendê vou me acabar
Se não tem Moet Chandon, cachaça vai apanhar
Esquece Ilhas Caiman deposita em Paquetá
Se não posso um Cordon Bleu, cabidela e vatapá
Quem não tem Las Vegas, vai no bingo de Irajá
Quem não tem Beverly Hills, mora no BNH
Quem não pode, quem não pode
Nova York vai de Madureira
Se não tem Empório Armani
Não importa vou na Creuza costureira do oitavo andar
Se não rola aquele almoço no Fasano
Vou na vila, vou comer a feijoada da Zilá
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"...mas ter os pés na terra nunca a impediu de ter as emoções à flor da pele."
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quando me toquei
que crescia pra dentro
e de que nada valia a defesa
tudo em mim virou beira
À borda de mim
qualquer alegria me chega
sem barreira
qualquer você que me ama
qualquer coisa que eu queira
pontinho de luz
infinito ao avesso
nunca fui tão grande
nunca tão pequena
camila rondon
Por Xico Sá*, especial para BR Press
(BR Press) - O cafajeste ou é um doce cafajeste, um cafajeste lírico, poético, romântico, decente... Ou é muito risível. Não há outra saída para este animal. Ou tem a manha ou torna-se caricato na primeira piscadela.Ou é um dublê do Peréio ou apenas um ensaio de Didi Mocó Sonrisal. Didi é gênio, ora, mas é macaco de outro galho. O cafajeste amador é piada. Quer traçar todas e a nenhuma se devota. Blefe. Não sabe, nem nunca procurou saber, que, no amor e no sexo, não existe mensalão nem milagre.
O cafa poético não é nada óbvio. Sabe, inclusive, que nem só de bonitonas e gostosas vive o homem. É capaz de devotar-se àquela mulher que ninguém dá nada por ela. E, de repente, descobre que se trata de um sexo sem precedentes, um vulcão nunca dantes despertado para as artes da alcova.
O cafa amador parece vestir-se sob encomenda de um personal stylist: falsa malandragem, cafuçu de araque. E sempre com um pé no metrossexualismo ou na tendência. No cafa romântico qualquer peça lhe cai bem, a ciência da pegada está no olho e no drinque caubói, por supuesto.
O doce cafajeste entra no saloon e não atira para todo lado. Não gasta balas à toa. Sempre escolhe um alvo. O caricato desfalca o colt até com as mulheres dos amigos, embora não tenha arma para matar sequer uma formiga a caminho da roça.
Falso e romântico
O falso cafa é só garganta. Transando ou não, diz que transou, fez e aconteceu, e ainda espalha a lenda urbana. Seu caminhãozinho não perde a viagem... Mas areia que é bom, necas.
O cafajeste romântico é discreto. Acredita sobretudo, e caso a caso, na arte da conquista, na devoção pura e simples. Nem que seja por uma noite apenas e nada mais. Diante dele, toda mulher se sente uma bonequinha de luxo. O canalha amador faz falsas promessas. O cafa romântico, evoluído, sabe que a fêmea moderna pode muito bem estar querendo... apenas sexo.
O cafa caricato se acha. O doce cafa sabe que hoje está por cima e amanhã pode muito bem estar por baixo - mas que seja, pelo menos, de uma bela cria da nossa costela, claro, no bafo.
No catecismo do cafa romântico, não há nojinhos nem proibições - ele se sujava todo chupando manga na infância e hoje sabe, por causa dessa pedagogia, como o sexo oral é uma arte.
O amador é asséptico e limpinho, corre sempre para o chuveiro depois da transa.
O cafa amoroso, amigo, se pudesse, voltava para o útero por dentro da mulher mais linda da cidade, como na crônica do amor louco do velho safado Bukowsky.
O amador se contenta, muitas vezes, com um sexozinho virtual no Messenger. Sem cheiros, sem odores... Ele ainda não sabe que para curar um amor platônico é preciso uma trepada homérica, como diria o poeta Eduardo Kac, gênio de Copacabana, da bioarte e seus arredores.
Modinhas de fêmea
Conselho do P.J.O'Rourke, no livro Etiqueta Moderna - Finas Maneiras para Gente Grossa, tradução do Aran, ed. Conrad:
"Quando você vai ao encontro de um homem, é perfeitamente aceitável que você deixe claro que trabalha mais duro, é mais bem sucedida e ganha muito mais do que ele. Mas você deve levar em consideração que ele precisa manter algum respeito próprio. Devido a isso, não importa o quanto você ganhe, permita que ele pague todas as contas."
Não queria colocar, já que está em milhares de perfis no orkut, frases no msn, etc, etc, etc.
Mas não dá! É isso! Só isso! Isso só! Que todos quere! Pelo menos eu quero!
Skank (Nando Reis)
E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
Quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
Quando eu estiver fogo
Suavemente se encaixe
E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
E quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
E quando eu estiver bobo
Sutilmente disfarce
Mas quando eu estiver morto
Suplico que não me mate, não
Dentro de ti, dentro de ti
Mesmo que o mundo acabe, enfim
Dentro de tudo que cabe em ti
Pobre Michael Jackson. O homem morre como todos morremos. Radicalmente só. Com o coração a despedir-se prosaicamente do corpo. O mundo, em choro e transe, não acredita. Um mito não morre assim. Porque assim morremos nós, anônimos e mortais, mergulhados na nossa própria miséria. Os mitos só morrem por acidente ou conspiração invejosa de terceiros, que não aguentam o brilho incandescente da estrela.
Leia a coluna inteira aqui.Composição: Iara Rennó / Alice Ruiz
viver ou morrer é o de menos
a vida inteira pode ser qualquer momento
ser feliz ou não: questão de talento
leve a semente vai
onde o vento leva
gente pesa
por mais que invente
só vai onde pisa
…
Nunca vi tanta mulher nua. Os sites da internet renovam semanalmente seu estoque de gatas vertiginosas. O que não falta é candidata para tirar a roupa. Serviu cafezinho numa cena de novela? Posa pelada. É prima de um jogador de basquete? Posa pelada. Caiu do terceiro andar? Posa pelada.
Depois da invenção do photoshop, até a mais insignificante das criaturas vira uma deusa, bastando pra isso uns retoquezinhos aqui e ali. Dá uma grana boa. E o namorado apóia, o pai fica orgulhoso, a mãe acha um acontecimento, as amigas invejam, então pudor pra quê?
Não sei se os homens estão radiantes com esta multiplicação de peitos e bundas. Infelizes não devem estar, mas duvido que algo que se tornou tão banal ainda enfeitice os que têm mais de 14 anos. Talvez a verdadeira excitação esteja, hoje, em ver uma mulher se despir de verdade – emocionalmente.
Nudez pode ter um significado diferente e muito mais intenso. É assistir a uma mulher desabotoar suas fantasias, suas dores, sua história. É erótico ver uma mulher que sorri, que chora, que vacila, que fica linda sendo sincera, que fica uma delícia sendo divertida, que deixa qualquer um maluco sendo inteligente. Uma mulher que diz o que pensa, o que sente e o que pretende, sem meias-verdades, sem esconder seus pequenos defeitos – aliás, deveríamos nos orgulhar de nossas falhas, é o que nos torna humanas, e não bonecas de porcelana. Arrebatador é assistir ao desnudamento de uma mulher em quem sempre se poderá confiar, mesmo que vire ex, mesmo que saiba demais.
Pouco tempos atrás, posar nua ainda era uma excentricidade das artistas, lembro que esperava-se com ansiedade a revista que traria um ensaio de Dina Sfat, por exemplo – pra citar uma mulher que sempre teve mais o que mostrar além do próprio corpo. Mas agora não há mais charme nem suspense, estamos na era das mulheres coisificadas, que posam nuas porque consideram um degrau na carreira. Até é. Na maioria das vezes, rumo à decadência. Escadas servem para descer também.
Não é fácil tirar a roupa e ficar pendurada numa banca de jornal mas, difícil por difícil, também é complicado abrir mão de pudores verbais, expor nossos segredos e insanidades, revelar nosso interior. Mas é o que devemos continuar fazendo. Despir nossa alma e mostrar pra valer quem somos, o que trazemos por dentro. Não conheço strip-tease mais sedutor.
Martha Medeiros
Publicado no Jornal Zero Hora – 7 de agosto de 2005