sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

E que venha 2011 (e que venha rápido)


* Paloma de la Paz - Picasso



(E ele já veio!!!!! Pq p variar isso vem pra cá com um certo atraso...rsrsrs)

Nossa, difícil falar deste ano... MUITO difícil!!!

Foi um ano contubadíssimo....

No começo perdi muita coisa:

- Minha vozinha

- Um relacionamento longo e com ele muitos dos meus sonhos

- Um emprego

- Alguns problemas de saúde na família

Tudo praticamente junto, desmontei de uma forma que nunca tinha desmontato.

Mas aí, como já não tinha emprego mesmo, resolvi meter as caras e fazer o que sempre quis, e descobri que queria mesmo. E pela primeira vez, acordo cedo pra p0rr@ pra ir trabalhar de bom humor, sem aquela vontade de não sair nunca mais da cama.

Logo depois uma pessoa maravilhosa, se torna ainda mais maravilhosa e começa a fazer parte da minha vida por completo, se tornando cada dia mais e mais especial.


Descobri que as coisas ruins só vieram pra eu conseguir dar uma guinada na minha vida, encerrar ciclos, iniciar a escrever minha história numa folha em branco.... E agora escrever a história do meu jeito!!!

Claro q nem tudo são flores:

- Profissional: Não tenho a remuneração que queria, mas tenho o reconhecimento que sempre quis, e a perspectiva de crescimento, coisa que em nenhum lugar eu conseguia ver. Além de gostar muito do que faço.

- Pessoal: embora muito feliz, isso gerou uma "segregação". Com isso "perdi" algumas pessoas que estavam fazendo parte da minha vida. Mas ao mesmo tempo tive certeza da amizade de todos os que ficaram, como são queridos e importantes na minha vida. Os que "foram", só o tempo dirá se voltarão!!!!!

Só o primeiro fato, que, infelizmente não tenho o que fazer, só rezar e sentir saudades!!!!!

E o último que estamos correndo atrás, e com fé de que tudo dará certo!!!

Mas num balanço geral, fecho 2010 com saldo positivo, embora querendo desesperadamente que ele acabe... rs

Semana passada me foi perguntado como havia sido meu ano e eu respondi isso: conturbado, mas o saldo final foi positivo. E ele me respondeu: então se for igual a este tá bom???

E eu respondi mais do que depressa: NÃO!
Mais um ano deste meu pobre coraçãozinho num guenta!!!!!

Para 2011 quero e desejo PAZ!!! (pois sei que 2010 não foi uma zona só p mim!!)

Que role um up na carreira, que eu continue feliz como estou hoje, que as pessoas queridas estejam sempre por perto... acho que já tá bom!!!!

UM EXCELENTE 2011 PARA TODOS!!!!!!!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Epifania!!!!!

Pequenas epifanias
(Caio Fernando Abreu - 22.4.1986)

Há alguns dias, Deus - ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus - enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro. Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer - eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal - não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns
silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziaram para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos. Por trás do que acontecia, eu redescobri magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mau me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da
outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.
Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quatro, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector - Tentação - na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível.". Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão bassê, também ruivo, que passa acorrentado. Ela pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E, nada acontece. De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava
dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou - descuidado, também - em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias, encravadas no dia-a-dia.
Era isso - aquela outra vida inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janela, vendo o que ninguém mais veria. Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso também tocar em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que recomponho devagar, traço a traço, quando estou
só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.