quinta-feira, 16 de julho de 2009

Palabras


5

Para que me escutes

minhas palavras
adelgaçam-se às vezes
como pegadas de gaivotas nas praias.

Colar, cascavél ébrio
para tuas mãos suaves como as uvas.

Vejo-as longe de mim, minhas palavras.

Mais do que minhas são tuas.

Sobem por minha velha tristeza como heras.

Sobem, sobem assim pelas parede úmidas.

Mas tu és a culpada deste jogo sangrento.

Elas estão fugindo do meu abrigo escuro.

Ah, tudo invades tu, ah tudo invades.


Antes de ti povoaram a slidão que ocupas,

e estão mais do que tu afeitas ao meu tédio.

Quero agora que digam o que quero dizer-te

para que escutes como quero que me escutes.


Costuma ainda arrastá-las o vento da angústia

e furações de sonhos ainda as tombam às vezes.


Escutas outras vozes em minha voz dorida.
Pranto de velhas bocas, sangue de velhas súplicas,

Ama-me, companheira. Não me abandones. Segue-me.

Segue-me, companheira, nesta onda de angústia.


Vão-se tingindo com o teu amor minhas palavras.

Ah, tudo invades tu, ah tudo invades.

Vou fazendo de todas um colar infinito

para tuas brancas mãos suaves como as uvas.

Pablo Neruda
Vinte poemas de Amor e uma canção desesperada

Um comentário:

Sempre Que Penso... disse...

A sim, tbm me chamo Carla, que roubar nada, somos charás, com C e tudo! rs Tambem adoro o significado e me identifico bastante!Ah!!Comigo tbm ja aconteceu.. RS
XeeerOo'
Obg.
pelo comentario!