segunda-feira, 8 de março de 2010

Dia Internacional da Mulher

Gosto tto dele (e de quem me mandou) que ele tinha que estar aqui neste dia, com este texto incrível. Tão "elogioso", como me foi definido...


DE MAIS UM INDECIFRÁVEL ENIGMA DE SAIAS
Xico Sá

É um segundo da mais absoluta beleza. Lá vinha a morena (ou loura). Minhas retinas mareadas fecham em close. Que maravilha. Aquele sorriso, como digo, indecifrável. Porque não se trata de um sorriso besta de alguma felicidadezinha passageira, de um ganho financeiro, da sorte no amor ou no jogo.
É mais enigmático. Muito mais do que o sorriso da Monalisa, que reza a lenda, era o sorriso de uma grávida. Não é o sorriso dos paraísos artificiais dos remédios tarjas pretas ou de alguma pastilha psicodélica. Nada.
Não é apenas o sorriso de quem recebeu uma notícia alvissareira, passou no concurso ou viu o regime fazer o efeito pretendido, uns quilos a menos, nova silhueta, que beleza! Nem chega perto.
Também não é o sorriso de quem ouviu uma cantada de amor com requintes de vida eterna.
A moça que ri sozinha na calçada é um mistério.
Não é o riso de quem ouviu uma piada, um "gostosa", "tesouro" etc etc. É bem mais profundo.
De que ri a moça?
Será que a moça que vem na calçada ri de alguma coisa que despencou-lhe, naquele exato instante,do trapézio da memória? Alguma coisa muito engraçada dos tempos em que ela era uma pequena, uma pirraia, quem sabe uma queda de uma árvore ao subir pela primeira vez no pé de jambo da frente da casa suburbana?
Não é o sorriso de quem recebeu carta do estrangeiro, carta do amor que um dia escafedeu-se, saiu para comprar o king size do desamor e do desprezo.
Às vezes parece um pouco com um certo sorriso de maldade. Uma pontinha de vingança, quem sabe. Mas que nada. Só parece. Nada disso.À medida, mesmo naquele rápido segundo, que os lábios voltam ao normal, desfazendo o sorriso, vê-se que não tem nada de maldoso naquele retrato. Muito menos é tingido pelo gloss sabor uva da ironia ou o batom vermelho das vinganças. Não, não é nada irônico, nada ressentido.
Quanto mistério num sorriso de tão pouco tempo. Daria uns cinco anos de vida em troca do esclarecimento desse enigma de um segundo.Chego até a refletir, cofiando a barba rala e dando pequenos nós na costeleta: será que é consciente, será que elas sabem que o misterioso sorriso toma conta do rosto naquela hora?
Não, também não é só sexo. Por mais que o gozo, a pequena morte, como dizem os franceses, faça bem à pele e seja motivo do carnaval particular no peito,não é esse ainda o motivo isolado daquele sorriso, um sorriso mais invocado do que o sorriso do gato de Alice.
Gastaríamos esse jornal inteiro em especulações ainda sem rumo. Coisa de agoniar o juízo. Melhor mesmo apreciar abestalhadamente esse lindo mistério das crias das nossas costelas.

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