quinta-feira, 1 de maio de 2008

Apropiado para o dia de hoje

APROPRIADO PARA UM DIA DE CHUVA

Com um olho
de quem não dormiu o suficiente
e há de se sentir insuficiente

(e há de se sentir estrangeiro
até mesmo
na casa do ser) –

penso: a questão do ser
não pode ser solucionada
com barbitúricos.

Não pode ser sequer mencionada,
nem mesmo depois
de uma boa noite de sono:

porque, depois de uma boa noite
de sono, tudo o que vem,
tudo o que a manhã nos devolve

é o dia que se nos devolve:
suas asas, seu anjo,
suas agonias domésticas

(seu inverossímil enredo).
Não pode ser, porque
é a questão do ser:

e a questão do ser
não é senão a própria questão do ser –
este estar aqui, a dizer

isto, a girar
e a responder a uma pergunta
que não sei sequer formular.

Renato Suttana

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