APROPRIADO PARA UM DIA DE CHUVA
Com um olho
de quem não dormiu o suficiente
e há de se sentir insuficiente
(e há de se sentir estrangeiro
até mesmo
na casa do ser) –
penso: a questão do ser
não pode ser solucionada
com barbitúricos.
Não pode ser sequer mencionada,
nem mesmo depois
de uma boa noite de sono:
porque, depois de uma boa noite
de sono, tudo o que vem,
tudo o que a manhã nos devolve
é o dia que se nos devolve:
suas asas, seu anjo,
suas agonias domésticas
(seu inverossímil enredo).
Não pode ser, porque
é a questão do ser:
e a questão do ser
não é senão a própria questão do ser –
este estar aqui, a dizer
isto, a girar
e a responder a uma pergunta
que não sei sequer formular.
Renato Suttana
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