domingo, 8 de junho de 2008

Recordar


Recordo-te como eras no derradeiro outono.
Eras a boina gris e o coração em calma.
Nos teus olhos lutavam as chamas do crepúsculo.
E caíam as folhas em água de tua alma.

Aos meus braços colada qual uma trepadeira,
as folhas recolhiam tua voz úmida e em calma.
Oh fogueira de pasmo em qual ardeu minha sede.
Doce jacinto azul torcido na minha alma.

Sinto o viajar dos olhos teus e é longe o outono:
boina gris, voz de pássaro e coração de casa,
para onde emigravam meus profundos anseios
e caíam meus beijos alegres como brasas.

Céu, visto de um navio. Campo, visto de um monte.
Tua lembrança é de luz, de fumo e lago em calma!
No fundo dos teus olhos ardiam os crepúsculos.
Folhas secas de outono giravam na tua alma.


Pablo Neruda

Vinte poemas de amor e uma canção desesperada


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