quarta-feira, 23 de abril de 2008

"Que se ja eterno enquanto dure"

TUDO PELO BOFE, TUDO PELA NEGA

Tudo é possível nos floridos inícios de namoros, cachos, romances, acasalamentos etc. Tudo na base do “ora direis, ouvir estrelas”.
Vale tudo.
Fazemos os 12 trabalhos de Hércules assobiando.
Carregamos, sem suar, a pedra que tanto pesou sobre o velho Sísifo.
O que você não me pede chorando que eu não te faça sorrindo?
Uma amiga acaba de me contar aqui, durante um vinho, o seu último sacrifício do gênero: fez uma interminável trilha pelo mato, daquelas que deixam até o mais caminhador dos índios ianomâmis no bagaço.
Tudo pelo bofe, seu mais novo pretendente.
Para completar, o rapaz, um Apolo, segundo ela, é vegetariano radical.
“Olhos azuis!!!”, ela gasta as exclamações. O mais é impublicável neste blog de carapuças e bons costumes.
O rapaz, diz ela, é vegetariano sectário. Carne nem pensar. E ela ama um filé mignon, um cordeiro, uma picanha, um galeto de padaria ou de esquina. Ama mas tem fingido que detesta...
Nada de bebida alcoólica, também apregoa. E ela adora uma boemia sem regras.
Lá vai então a nossa “sedentária ativista”, como ela se define, na mais íngreme das trilhas na selva. Haja mata atlântica. Quatro minutos depois ela já passava mal. Um inferno verde de Dante. Achava que iria morrer.
“Ele pegou e ficou segurando a minha mão”, derrete-se a nega qual Aviação de latinha.
Ah, uma cerveja!, ela pensava enquanto ele ofertava aqueles líquidos de atleta.
Os sacrifícios dos capítulos iniciais da paixão, do amor ou do possível amor.
O pior, brincamos, é que ele não come nada que tenha rosto _eis a moral dos vegetarianos.
E a minha amiga, é bom que se diga, tem um rosto lindo, lindo, lindo. Um espetáculo na flor dos seus 35 veraneios.
Além de trilha, o cara também faz yoga.
O que me fez lembrar de um amigo, nordestino de boa cepa que habita São Paulo há tempos, que começou a fazer yoga (olha o biquinho do “ô” fechado!) por causa de uma mulher que frequentava a tal aula. Sacrifícios do amor, ora veja.
Faz-se de tudo na paixão roxa.
Meu amigo Moreno, por exemplo, odeia comida japonesa, mas vive a empanturrar-se dos sashimis mais exóticos por causa de uma gazela. “Adooooro tudo do mundo oriental”, derramava-se o canalha. “Tóquio é uma maravilha, estive lá no ano passado; na próxima a gente vai juntos”, mentia o adorável carioca.
Tudo é possível no momento de bater o centro, dar o pontapé inicial no namoro, no cacho, no rolo, no romance, seja lá que batismo tenha essa arte de juntar duas criaturas para o bem-bom da vida.
Faz-se de tudo. Até sexo em pé numa rede, essa arte-mor nunca prevista pelos manuais, catecismos ou Kama Sutra, mas nobilíssima para as tribos do norte.
Faz-se de tudo. Intelectual apaixonado lê Paulo Coelho, quando o autor é o preferido da sua costela, e ainda encontra um corte epistemológico para morrer de elogiá-lo. Vale tudo, o amor tudo pode.
Machão tosco vê cinema francês ou iraniano e chora de molhar a camisa; mulher se acaba de torcer num Fla X Flu, num Tupi x Atlético, num Sport x Salgueiro, num Botafogo x Madureira...
Isso é lindo, aqui e agora, viva a densidade possível. Depois é depois, ai é só tentar continuar na arte zen de consertar chuveiros e encrencas... Casar ou comprar uma motocicleta será sempre o nosso eterno dilema.

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